domingo, janeiro 10, 2010

Angola, caiu a máscara


Hoje ao abrir a página electrónica do Pravda.ru, velhinho jornal russo, disponível na rede desde 1999 deparei-me com um magnifico artigo assinado por Timothy Bancroft-Hinchey, que retrata como ninguém a realidade angolana dos nossos dias, perdoem-me os puristas, mas não posso deixar de o reproduzir na integra (que bom que é ler outros jornais doutros países, pensamos caramba isto anda tudo manipulado):

«Qual é o primeiro e o único país no mundo, em que uma equipa de futebol tenha sido atacado à metralhadora?

Angola.

Só se pode varrer o lixo por debaixo do tapete por algum tempo.

Vamos uma vez por todas esquecer a hipocrisia e dizer algumas verdades sobre este país, considerado por tantos como uma espécie de paraíso. Nada poderia estar mais longe da verdade.

Em 2008, Bob Geldof causou um tumulto durante um discurso proferido em Lisboa, no qual ele afirmou que Angola é um país "gerido por criminosos". Ele, justamente, sublinhou as enormes disparidades nos padrões de vida, num país onde a elite formada pelos dirigentes do partido do governo (MPLA) vivem no luxo, enquanto a grande maioria da população luta para sobreviver.

Eles comem tudo e não deixam nada…



Muitos dos altos funcionários de Angola são corruptos. Sacos Azuis são a norma e não uma excepção e se fosse um auditor respeitável passar um pente fino nos registos das contas das empresas em Angola e seus executivos, muitos, se não a maioria, das empresas seriam encerradas e seus executivos seriam atirados para uma das prisões fedorentas daquele país.


No entanto, Angola é anunciada como uma espécie de paraíso, especialmente em Portugal, onde funcionários do governo fecham os olhos para a flagrante falta de democracia no país. Segundo a Constituição de Angola, o presidente é eleito para um mandato de 5 anos (art. 59 º) por voto universal, directo, igual, secreto e periódico.

José Eduardo dos Santos está no poder há 27 anos.

As eleições legislativas de Setembro de 2008 (o primeiro desde 1992, quando alguns dos líderes do principal partido de oposição, UNITA, foram massacrados) foram fortemente criticadas pelo relatório de observadores da UE (uma província, por exemplo, teve uma afluência de 108%). "Não havia nenhuma salvaguarda contra manipulação dos boletins de voto e nenhum meio de verificar a participação inesperadamente elevada ", declara o relatório.


O perfil da nova elite de Angola: São pessoas que estudaram no exterior, na Europa ou nos E.U.A., não têm qualquer ligação com as pessoas que supostamente representam e que viram as costas à sua origem Africana, as suas línguas nativas e sua cultura. Contudo, apesar da flagrante falta de democracia em Angola, apesar das terríveis condições de vida de vastas faixas da população, enquanto a elite corrupta perpétua a sua existência através de um sistema de subornos e comissões (em conluio com os europeus), os países e as empresas estão fazendo fila para assinar contratos lucrativos com uma das economias de mais rápido crescimento do mundo.


Enquanto Angola é tratada com um grau de servilismo repugnante como uma espécie de Nirvana dos dias actuais e enquanto aqueles que são covardes demais para enfrentar e dizer a verdade fecham os olhos, a verdade é que o World Democracy Audit premeia Angola com um miserável ranking de 116 em 150 pontos (1 sendo o valor óptimo). O mesmo relatório atribui a Angola 132 (de uma escala de 1 a 149) por corrupção, 94 numa escala de 1 a 150 para a liberdade de imprensa, 6 numa escala de 1 a 7, para direitos políticos e 5 para liberdades civis.

Portanto o ataque chocante por rebeldes da FLEC contra o autocarro que levava a selecção nacional de futebol togolesa para o Campeonato Africano das Nações (em que três pessoas foram mortas) estalou o verniz/esmalte de uma vez por todas. Você só pode varrer o lixo para debaixo do tapete por tanto tempo. É verdade que foi um incidente isolado e é verdade que piores actos de terrorismo foram cometidos noutros lugares.


É verdade, tem havido um processo bem sucedido de construção do Estado após o fim da guerra civil que deflagrou em Angola desde sua independência em 1975 até a morte do Dr. Jonas Savimbi (líder da UNITA) em 2002.


Mas dizemos toda a verdade sobre Angola para ajudar os cidadãos angolanos. Não é um mar de rosas e nunca foi. Sua classe dominante tem petróleo, e arrogância, e enquanto o povo de Angola luta para colocar comida na mesa, eles fretam um jacto particular para ir às compras nas lojas designer de Lisboa, ou pulam para ir ver um jogo de futebol do FC Porto.


Toda a verdade é que Angola, em termos gerais, é corrupto, a verdade é que Angola é horrivelmente mal governado e a verdade é que Angola é antidemocrático. E aqueles que se associam com os criminosos são tão culpados quanto eles, em perpetuar uma sociedade injusta que providencia tudo para alguns e dá absolutamente nada ao cidadão comum.» assinado por Timothy Bancroft-Hinchey

http://port.pravda.ru/cplp/angola/28659-1/


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