sexta-feira, maio 03, 2013

Sister, de Ursula Meier




Quando os cumes dos alpes são mais calorosos do que o refúgio caseiro.

Em 2008, a realizadora suíça Ursula Meier fez uma bizarra mas fascinante primeira longa metragem, Home, uma espécie “on the road” sedentário, os protagonistas literalmente encontravam-se em cima de uma auto-estrada, mas não saíam do mesmo lugar, encapsulados voluntariamente num doce lar que se torna bunker, uma atitude de resistência passiva. Neste novo filme (Urso de Prata em Berlim), a realizadora resgata não só o seu pequeno actor que já tinha tido uma prestação admirável  em Home, Kacey Mottet Klein, como recupera uma certa ideia de movimento estagnado. As personagens movem-se o tempo todo, mas não sairão do mesmo lugar. Há algo que também faz "raccord" com aquele seu anterior filme: a estrada, sempre a estrada cinzenta e seus roncares de motores, que tem de ser atravessada quando se transita de um mundo para outro: e nisto a Suíça parece ser verdadeiramente grande. Porque as personagens têm um movimento pendular, teleférico acima, teleférico abaixo. Mas por mais que subam, do vale sempre cinzento e ensombrado, para a estância de ski, luminosa, onde pessoas de existências luxuosas deslizam pela neve, com todo o equipamento também luxuoso, não vão sair nunca do buraco emocional e doméstico em que se encontram.

É difícil de enquadrar este filme no melodrama, porque a realizadora roça a indulgência sentimental, mas nunca se deixa instalar lá (há uma certa sordidez lavada), mesmo quando se invertem os papéis na parca gestão familiar, entre o pequeno actor (um pré-adolescente) e a sua "irmã" (uma pós-adolescente). Ela tem uma vida emocional e profissional errática e é o miúdo de 12 anos que aguenta a casa, com esquemas e roubos lá no mundo dos cumes alpinos. Parece mais uma "upstairs and downstairs story". Estamos no lado sombra da Suíça, nos  esconsos das estância, nos balneários, cozinhas, armazéns respiradouros e ventoinhas onde circulam os criados, e se ocultam os contentores e caixotes do lixo. E mostra-se como podem ser desinteressantes esses resorts da neve, de rastos tão trilhados por excursões de turistas sempre iguais, onde o chão é sempre branco e as pessoas indiferenciadamente inchadas de latex. Mas o refúgio, o abrigo, é definitivamente lá em cima. Mais uma vez é o ambiente doméstico de Meier que sufoca e a atmosfera pode ser, realmente, rarefeita.





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